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quarta-feira, fevereiro 14, 2001
Li no Jornal do Brasil uma matéria propagandeando o riso.
Até aí é excelente, concordo com eles que riso faz bem a saúde e eu mesmo, sempre que posso, estou rindo a torto e a direito. Mas a matéria me deixou com um pensamento batucando aqui. Não sei ainda o que produzir com ele, mas talvez o faça no futuro. Ok, eles fizeram uma estudo sobre os benefícios do riso, sobre a liberaçào de endorfina e serotonina causada pelo riso , sem contar com exercícios abdominais, queima de calorias , melhorias respiratórias... o de sempre. A raiz da questão é : Só consigo pensar como uma coisa dessas pode ser cruel. Imaginemos que se faça uma pesquisa, daquelas coisas com estatísticas e etc. Seria horrendo, digo, nao que deveria ser proibido, mas acho que devia ser impossível ! O que me intriga mais não são os sorridentes, esses eu conheço bem. Mas e os carrancudos ? É , devia ser impossível encontrar alguém que não sorrisse, assim não haveria pesquisa. Uma pena, acho que é possível que esses alguéns existam, e estejam por aí dando aulas de física, trabalhando em caixas de supermercado ou na força policial, sei lá. Supondo a existência desse cidadão, essa figura que ignora o riso (e seus subprodutos). Quais seriam os seus planos ? O que ele faz com o salário que recebe no fim do mês ? Como será que ele se veste ? E do que GOSTA um sujeito desses ? É incrível, o gostar me é tão apregoado ao sorrir, que não consigo entender esse ser ainda. Eu por um instante me interesso em compor esse personagem, imagine só; Um sujeito homem, vestido talvez de verde (a cor foi escolhida ao acaso, adoro verde e o cinza seria clichê demais), impecável, sisudo como só ele. sem dúvida se trataria de uma roupa com alguns botões, no mínimo no punho. A falha já advém da provável vaidade do sujeito. Vaidoso, acabaria sorrindo pro espelho. Melhor então, façamos o desgraçado feio como o cão. E triste, sem dúvida é triste essa entidade. Mas não vamos colocar já feições tristes em nossa pintura, a tristeza não está aí pra servir de explicação para o personagem, afinal de contas ele nasceu assim , sério. A tristeza pode ser uma daquelas passageiras, mas ele em seu mau-humor , se torna um eterno vagão de tristezas passageiras. Triste, com botões no punho da camisa verde. Nada de postura arriada, ombros caídos, nosso herói(?) tem uma postura quase militar. (além do traje verde, é claro) Fala muito pouco, e provavelmente sente um leve incômodo ao pronunciar certas palavras devido a sua inevitável falta de riso. Mas vamos colocar uma situaçao de riso inevitável em frente, ele teria que fugir com os olhos pra algum lugar ... Um livro ! O homem-que-nào-ri carrega sempre um livro. Se posto face a face com o risível, ele de imediato coloca-se a ler. Todos os dias a mesma página. O que estaria lendo ? Uma poesia ? Um Salmo ? Transformadas de LaPlace ? E porque leria ele aquilo. Um sem-riso é sem dúvida um descontente patológico. Reler aquelas páginas nunca o agradaria, para o supra-sério nada é agradável. Acho que o sujeito se põe a fitar, diariamente, uma limpa e lisa página em branco. Relendo diariamente o nada. É, pensando aqui com meus botões (ops !) o herói dessa vez não tem razão de ser. Do alto de minhas desanimadas hipotiposes, me rendo aliviado. Tal sujeito não existe, nem em si mesmo ele faria sentido. Mas um dia vão aparecer as estatísticas e serei forçado a aceitar, calado, mais uma vitória do empírico sobre a metafísico. Malditas estatísticas. O que a Ciência ganha com isso ?
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