E quase terminando o livro do Sabino, me deparo com uma crônica sobre um bodoque perdido. É Cômico, eu que sempre tive estilingue tenho que ler que o Sabino teve um bodoque, e diz ele que não matou passarinhos com ele. Eu, por minha vez também não me lembro de ter usado tal ferramenta para matar passarinhos, nem ao menos me lembro de ter feito muito mais com meu estilingue do que atirar pedras da praia direto no elevado do Joá, acertado sabe-se lá o que. Talvez já tenha tentado atingir o meu vizinho Gabriel, mas isso pode ser uma daquelas coisas que a gente morre sem saber se é fato mal esquecido ou mentira muitas vezes contada.
E antes que me venham desmentir, explico que já matei passarinhos sim, só que nunca acertei um com o estilingue, meu prazer era ver as pedras voando longe e alto.


Mas a coisa toda veio me trazer numa singela bandejinha a lembrança do Cabeça de Ponte. Hoje em dia, em minhas brincadeiras de criança grande, acabo usando tanto esse termo e quase nunca o Cabeça de Ponte original me dá na telha. Pelo que me lembro dele, era meu preferido, tinha uma boina talvez verde ou roxa, e cara de poucos amigos. Só sei que deixei o Cabeça de Ponte cair na areia um certo dia e ,entretido com qualquer outra bagunça, não desci para buscá-lo.
Puro delírio foi, mesmo meses depois, descer da pista pra areia da Praia dos Amores e tentar achar o meu boneco. Me lembro de ter feito isso tantas vezes, que caçar o brinquedo havia se tornado uma aventura tão intensa quanto possuí-lo, e a caçada acabou sendo sem dúvida mais memorável do que perda, tendo em vista que nem me lembro mais tão bem de quando ou como isso realmente aconteceu.

Lembro que não sabia o significado dessa palavra - Cabeça de Ponte - e associava o nome infeliz do boneco ao formato aplainado de seu crânio plástico, que afinal de contas tinha a graça de ostentar a bela e (?) verde boina.



Era meu boneco preferido, e a lembrança que tenho é justamente essa.
Não lembro de brincar com o Cabeça de Ponte, só de procurá-lo.  
[00:39]