Ideia, muda
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segunda-feira, abril 23, 2001

 
Saudades do tempo inexistente.
Do tempo em que no instante imediatamente anterior ao erro, éramos interpelados por algo como "a norma é clara" ou "isso é errado".
Hoje em dia, em vida e responsabilidade, erra-se sem moderação, sem compostura.
E não há decoro algum em errar assim desmedidamente, galgar lentamente as pedras inócuas desse monte, musa de perfil tão estreito, arguto.
Permito-me atribuir das tão desejadas responsabilidades, assim como se pudesse fazer delas o bom papel. Como se do bom papel eu pudesse então desenrolar ainda mais atribuições, partindo de suas propriedades e delegando eternamente mais responsabilidades na cruel cadeia. A obviedade grita, alerta as margens de que hão de aparecer rachaduras nas gotas vivas dessa correnteza. Mais um erro, olhar a água entrelaçada e acreditar que é possível normalizar o homem em bases assim, canônicas.
Mesmo face a esse desarranjo enfadonho, depois de lançar na pia do banheiro quantidades generosas de anseios em forma de azia.
Expectorava-me em expectativas, quanta tolice. Sei melhor as coisas, aguardei o passar dos dias em angústia, engoli espinho por espinho da que considero a flor maior. Observo agora o aguardar, vejo que mesmo passada a maré vermelha, me resta esperar a outra rebentar em fúria o tão esperado dique.
Lembro da gravação na máquina, de outra a confundir Davis e Parker, saúdo o passado pela sua transitoriedade. Eu, passante, agradeço-te pois se deixa ficar pra trás. Ao presente me restam ainda perguntas, o dia de ontem ainda se faz tão dentro, sinto-me como a flor, engolido.
Hei de expor o desagrado, mas nada de regras, regorjeio ou regorgito, nada de susto, carga ou grito. Ainda trago na boca um sabor entre-azedo e, ao contrário do primeiro e único cigarro que traguei, chocolates não estão ajudando.
No que me pareceu o fim dos tempos ruins vejo que tudo é complexo, nada se adianta, me entristeço ao constatar que até mesmo minha tentativa vã de precipitar o que pra mim é de indiscutível beleza foi alvo da argumentação onipresente. É estranho ver um argumento antecipado acontecendo, parece mesmo andar pra trás, tendo brotado do esperar, noticio e espero. A diaba me escorre dos ouvidos, escapa de minha própria mente e desaba na garganta alheia. O resultado é novamente inefável, me enebrio ao constatar o inocorrido.

(Nota cronológica : Apesar de postado as 18:44, o texto nasceu por volta de 12:00.)
 

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