Tarde da noite.
Estudo tranquilo na sala, a cabeça finalmente distante das tais outras preocupações. Cada exercício vai fluindo naturalmente, como deveria ser.
E como deveria ser, estanco na boa e velha esquina brusca dos fatoriais. Volto ao quarto... Um pouco d'água e já me animo a voltar à batalha e, induzindo lentamente, o fatorial desmonta. Fico contente de conseguir produzir afinal. Quando se está com a cabeça ocupada, escrever (mesmo que sob a mais complexa das alcunhas) se torna fácil, mas é incrível como nessas situaçoes em mim é descarada a fuga do pensamento lógico-matemático, fico uma besta, mas daquelas irracionais mesmo, antes fosse uma besta quadrada !
Lá pelas tantas, pra minha surpresa, outro insone se manifesta no lar. É mamãe, que aparece com centenas de provas pra corrigir. Fico por um instante observando a quantidade de erros que cometem em logaritmos, deixo aberta a cabeça para que, eventualmente, entrem sequências de Cauchy ou algo assim. O sono vai mostrando sua cara sorridente, me deixo embebedar pela trivialidade de camisas, sapatos e calças que se enveredam num problema bobo de múltipla escolha que ela corrige com carinho. Assim que me levanto da mesa, sem avisar mamãe também levanta, pro quarto, como quem tem algo urgente pra resolver.

- Vou dormir tá ?
- Ih, é ? Apaga a luz da sala então, que termino de corrigir tudo amanhã.

Entro no quarto, nenhuma luz no corredor. Vou blogar e deitar antes que eu me convença do óbvio:
O Amanhã já chegou e eu aqui insistindo em ignorá-lo.
Hoje, prometo, durmo mais um vez em reverência ao tempo.
 
[04:01]