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terça-feira, maio 15, 2001
De volta de minha prova de Discreta.
Acredito que fui bem, desta vez nada de deixar questões em branco. Como havia conversado com a Juliana, realmente ninguém sabia o que esperar da prova. Prof. Tomei mais um vez supreende o povo. A prova, embora estivesse relativamente fácil, não continha uma só questão sobre criptografia e desta vez tinha enunciados ultrajantes, por assim dizer. Segunda feira entreguei minha prova de Análise, essa sim foi complicada. Embora estivesse trabalhando com um certo afinco nas questões durante a semana, acabei deixando acumular uma série de desenvolvimentos para última hora. Resultado: A aula de ontem começou as 16hs, e tinha o término previsto para as 18hs. Eu adentro a sala, ofegante, exatamente às 17:50, com o trabalho nas mãos... Ontem aconteceu também uma outra coisa peculiar... Depois de entregar a prova de Análise (não posso dizer "depois de assistir à aula", já que cheguei 15 minutos antes do fim), fui pra casa descansar e ,a pedido da Márcia, fui pra jantar em Botafogo. A janta, fetuccini, era a maneira da família de comemorar o aniversário da irmã dela. Acredito eu que não exista outra conexão direta entre a massa e o aniversário de minha "cunhada" senão o fato de que foi ela quem preparou a tal refeição. Como, por ocasião do meu estudo de última hora, eu não havia comido nada além de chocolates, me dei ao luxo de repetir o prato. O faria ainda uma terceira vez,provavelmente se a casa estivesse um pouco menos cheia. Nada tenho contra gatos bem alimentados, mas me dói cogitar os possíveis fins de um macarrão frio numa casa que não tem o aparelho que pra mim é o auge da cúlinária moderna - forno de microondas. Essa semana mesmo eu volto lá e confiro os diâmetros de cada um dos (cerca de) 10 bichanos. Ainda sobre os gatos, Márcia comentou comigo uma coisa que me deixou deveras desestimulado a criar em casa tais animais. Eu não poderia deixar solene um bolo de chocolate ou algo que o valha em cima da mesa ! Só de imaginar já fico triste, bolos e toda sorte de quitutes tendo que ser devorados ou embalados com presteza. Nada mais do comer preguiçoso e sem horário, talvez a única tranquilidade que eu exigiria se me fossem apresentadas centenas de prospectos de kit-lar. Fujo do assunto. A cena peculiar de ontem nem ao menos se passou em casa de Márcia, cenário de minhas últimas linhas, e sim no ponto de ônibus. Saí de lá por volta de 1:30am, totalmente sem vontade de deixar minha namorada e ir dormir sozinho, em casa. Eu havia resolvido que deste modo seria melhor, já que eu teria serenidade suficiente para, caso necessário, estudar um tantinho de Discreta no dia seguinte. Estava mais frio do que eu esperava e contrariando recomendações de Márcia e boa parte dos membros da família (os gatos excluem-se, é claro) eu estava sem casaco. Atravessei determinado a ruazinha transversal escura que, como toda ruazinha transversal escura, é apinhada de tipos estranhos e mau-encarados. Em suma, todos os tipos, quando postos sozinhos um uma rua dessas, que existem em todo o mundo, transformam-se em mau-encarados potencialmente perigosos. Sentei-me no banco do ponto de Ônibus, e coloquei de volta a minha camisa. Tenho o hábito idiota de tirar a camisa quando saio de um lugar onde usar camisa é norma. Não faço isso ao sair de casa, posto que em geral eu coloco a camisa apenas com o propósito de sair de casa, mas muito frequentemente tiro a camisa quando saio da casa da Márcia. Desta vez percebi que o frio era por demais evidente pra que eu de fato ficasse lá prostrado sem camisa. No ponto, sentado no outro banco de concreto, estava o Lucas (escrevo aqui o nome para que eu possa consultar mais tarde, sou péssimo com nomes), de cabeça baixa, ouvindo tranquilamente seu walkman. A figura dele me intrigara, em especial justamente por seu aspecto tranquilo, mas também ao ar de interesse que geralmente encontro em pessoas que usam óculos mesmo quando não precisam olhar para lugar algum. Coisa de poucos minutos passam e noto um casal a discutir do outro lado da rua, ambos olhavam em nossa direção e parecia que um de nós era assunto. Não sei dizer se por perspicácia ou pura falta de vaidade, mas sentia que a coisa não era comigo, e sim com meu futuro amigo. Os dois atravessam a rua, o homem a observar atentamente nós dois, anda até Lucas e pergunta : -Você que tá aí olhando a gente faz tempo, não viu o celular da minha menina não ? Ela esqueceu no banco ali do outro lado da rua, só tinha você aqui... Comecei a me indignar. Ainda não havia de fato compreendido do que se tratava, mas algo que dizia que alguma coisas como educação, gentileza ou senso de justiça estavam sendo desconsideradas talvez pelo fato de Lucas ser negro. Ele retrucara indiferente, "Não, não sei de celular nenhum, tou só esperando minha condução". A menina nesse instante dá um apertão quase discreto no braço do sujeito, que resolve mudar um pouco o alvo da arguição. - E você, viu meu celular ? Com receio de que ele talvez tivesse confundindo o meu telefone com o telefone desaparecido, eu saquei meu aparelho e me prontifiquei de imediato a discar para o número. Ele a essa altura se resume a resmungar algo sobre o celular perdido estar com bateria descarregada, e "pra falar a verdade não tava nem com crédito mais, aquela porcaria". Contente com meu papel de solícito anônimo na investigação do celular perdido, torno a encostar no banco e esperar meu ônibus. O sujeito atravessa de novo a rua, visivelmente insatisfeito. Penso em talvez comentar a delicadeza do casal de logrados com meu companheiro de ponto, mas ele parecia aliviado em retornar ao aconchego de seu walkman. Nem tive tempo de me decidir se levantava ou não o assunto, quando volta o logrado, desta vez sem a namorada à tiracolo. Eles haviam discutido sobre algum assunto, e ele desta vez fitava a mochila onde descansava o walkman do meu distraído amigo. Sem falar comigo ou me interrogar de forma alguma, ele diz ao Lucas: - E ae, se eu falar pra você abrir essa sua mochila ai, eu não vou encontrar o celular da minha mina não ? Posso adiantar que daí em diante as coisas só pioraram. Levantei indignado e, contra a vontade do imbecil, o fiz ouvir um pouco sobre respeito e educação. Nem me acho um laureado no assunto, uma vez que já tive várias oportunidades de me mostrar inapto a manter uma conversa cordial em casos onde a educação seria de fato bem vinda, mas em todo caso eu era o único voluntário presente. Irritado pela minha intervenção coube ao sujeito o papel de nos intimidar com as boas e velhas ameaças de morte e todas aquelas coisas que mais pareciam o Homem Cueca falando "vagabundo assim , é um por dia na idéia". Muito custou e no fim das contas, já querendo acabar a discussão, Lucas teve o prazer de mostrar que na mochila nada havia além de mudas de roupa, seu walkman e umas fitas K7. Depois de convencido o sujeito de que ladrão algum seria estúpido o bastante para roubar um telefone e ficar esperando o ônibus do outro lado da rua, pregamos ainda um pouco mais, para que o sujeito ficasse ao menos com vergonha do papel que prestara. A parte boa de tudo isso com certeza não foi a reabilitação de mais um pária, porque tenho certeza de que ele cedo ou tarde volta a ameaçar desconhecidos pelo simples prazer de se sentir intimidador. Bom mesmo foi poder conversar sobre o ocorrido com meu mais novo amigo, saber que ele trabalha como sub-gerente no Bob's da Universidade Santa Úrsula, que ele veio parar no Rio em 1990, e imaginar se vou ter a oportunidade de revê-lo e rir um tanto dessa situação ridícula que nos foi imposta por uma dessas condições esdrúxulas que fazem com duas pessoas se conheçam. Pra mim, é um marco, ontem vi que visitar a Márcia começa a fazer parte de meu cotidiano, e que da mesma forma que me animo em encontrar o sanfoneiro no Glória-Leblon, toda vez que passar pela ruazinha transversal escura, indo pra Rua São Clemente, vou estar esperando encontrar de novo com meu camarada Angolano. -- Sentei pra escrever esse post querendo escrever uma mensagem para o Gabriel, me extendi demais. Fico devendo ainda a msg pro Gabis, o dia já quase acabou e nem ao menos consegui postar.
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