Tá brabo, uma vez em cada dois dias, um post gigante. Essas variaçoes sazonais de frequência no weblog são sadias, eu creio.
Gostaria, entretanto, de ter um pouco mais de tempo hábil para escrever, especialmente porque nos últimos dias aconteceram uma série de coisas dignas de nota.
Ontem por exemplo foi um dia hilário, acordei com um humor abaladíssimo, tive um anteontem bem mal passado, uma noite mal dormida e levantei já quase atrasado pra aula de Discreta.
Na cabeça vieram as seguintes perguntas :
Tomar uma ducha ? sem tempo.
Café da manhã ? nem pensar.
Faltar a aula ? hmmm... nao. (essa foi quase)
Dar um sorriso e encarar o dia de frente ? gasp.

Resolvi que escovar os dentes bastaria como café, aproveitei que havia dormido de calça jeans e só coloquei um casaco, fui direto pra garagem pegar a bicileta.
A escovada me preparou para um eventual sorriso, já que o mesmo não quis brotar naquele meio dia matinal. Já me disseram que como ciclista eu até sou um bom torneiro mecânico e foi inevitável ver esse pensamento surgir novamente, enquanto eu resfolegava rua acima em meu trôpego pedalar.

Chego na faculdade suando, dia quente demais pra um casaco e agora, para o bem-estar da comunidade científica, era melhor continuar com ele. A aula prossegui naturalmente, salvo o fato de que éramos apena meia turma nesta terça, provavelmente por causa de alguma prova com horário coincidente. Antes de começar, o Tomei insistiu em reclamar da infeliz escolha do curso pro horário de 12hs, mas pouco se podia fazer a respeito a essa altura.
Ainda chateado com minha prova me imbuí de resipiscência e prestei o máximo de atenção que me era permitido com o sono que sentia.

Lembrei me então da conversa que tive com Fátima no almoço na cada de minha vó, onde ela comentara que o Tomei havia sido professor dela também e que ele quando moço tomava sorvetes na sorveteria do Moraes. Em uma das usuais pausas da aula, a turma tentava em vão montar alguma indução estranha, resolvi comentar o fato com Tomei.
Ele a princípio não reconheceu Fátima como ex-aluna, mas bastou citar a sorveteria do tio Adriano que rapidamente ele, todo 'pimpão' (Gabi®) e sorridente, começou a desenrolar uma série de fatos, dentre eles a imperícia de Nelson com a bola de futebol.

Daí veio a minha gafe, motivo de riso pro resto do dia. Meu tio Adriano, casado até hoje com minha tia Vilma, teve com ela 3 filhos: Fátima, Nelson e Roberto. Embora sejam muito diferentes, eu - mal servido de anamnésia - sempre confundi Nelson e Roberto. Até aí tudo bem, é aceitável, mas o alarmante é que um dos dois morrera há alguns anos atropelado aqui no Leblon, poucas quadras daqui. Eu, desligado por um instante da existência de um irmão vivo, condenei o pobre Nelson a morte, para desamparo de meu professor. O que antes era uma conversa amena, tornou se uma notícia de morte trágica.
Não durou muito mais o nosso papo, em especial porque a aula tinha que continuar, mas o professor pareceu triste pela tragédia. Era triste de fato, e eu me lembro de como fiquei chocado com aquilo tudo anos atrás. Ao chegar em casa, comentei o ocorrido com minha irmã e ela, com a delicadeza de lhe é peculiar, indicou o impropério. O falecido em questão era o Roberto, irmão mais novo.

Antes de dizer que seria cômico senão fosse trágico, me poupei de reservas, e passei o resto da tarde de riso solto. A família Moraes é quase parente nossa e eu, que conhecia bem seus componentes, não deveria ter sido tão leviano justamente com os que já faleceram.


----- Original Message -----
From: "Wilson Reis"
Sent: Tuesday, May 22, 2001 6:10 PM
Subject: Sobre o Nelson.


> Professor, antes de mais nada, peço as mais sinceras desculpas.
> Conversei com minha irmã hoje mesmo sobre Nelson e Fátima, e percebi a minha gafe.
> Matei o sujeito errado, o falecido em questão é o Roberto, irmão mais novo dos dois.
> Nelson passa bem, e acredito que continua jogando um futebol pior que o seu.
>
> Will



----- Original Message -----
From: "C. Tomei"
Sent: Wednesday, May 23, 2001 9:04 AM
Subject: Re: Sobre o Nelson.


>
> Caro Will, nao deve pedir desculpas antes de ressuscitar alguem.
> Um abraco, mande pra eles tambem se der.
>C.



Alavancado pela jocosidade implícita em minha própria idiotice, tive um ótimo dia. Aproveitei o bom humor e acredito ter contribuído com sucesso para que Márcia tivesse também um bom dia.
Acabei passando a noite por lá, chegando agora em casa. Fechando bem a roda, marquei um aluno para uma da tarde, antes de minha aula de ética. Se o professor Pitombeira não faltar, estarei de volta ao lar por volta de 18hs, quando pretendo fechar meu turno do 17 e quem sabe escrever todos os emails que gostaria.

 
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