Ideia, muda
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sexta-feira, novembro 30, 2001

 
Nessa estória toda, mais estranho ainda é essa sensação de escrever em outro teclado.
Sei que isso é um comentário muito pobre para começar a descrever uma situação marcante,
mas o fato é que por dentro me sinto exatamente dessa maneira.

O teclado aqui agora tem tecla de cedilha, o til é perto dos colchetes, onde era o circunflexo agora tem-se tremas e o canto do til é onde moram as "tais" aspas.

Aqui dentro, tudo parece ter mudado de lugar também. Posso agora estar conseguindo escrever com relativa agilidade, mas já não consigo descrever como deveria. Sempre acontece assim, as palavras oscilam o tempo inteiro.

Lembro da primeira vez que percebi que as possuía. Lembro quando achava graça em escrever páginas e páginas de cartas de amor e nunca entregar. Ainda tenho quase todas, cartas que releio eventualmente e me deixam até meio sem graça.

Eu estava entregue, as cartas não.


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Ontem, depois de dias pensando, adiando o estudo e deixando que o calor insuportável disfarçasse as obviedades, para que ninguém soubesse que eu suava frio.

Hoje perguntaram se tudo foi de comum acordo.
Pensei nisso tudo e acho quase impossível.

Subimos no segundo andar e sentamos, um de frente para o outro.
Uma situação desconfortável, tudo era desconfortável. Seu olhar era desconfortável, tanto ou mais que o infeliz que fumava cachimbo na mesa ao lado ou a madame que insistia em esbarrar em minha cadeira querendo me expulsar da posição que ocupava.

Uma vontade de abraçá-la, de me sentir protegido e proteger.

Fico quieto, apagado
como quem faz ou fez arder
na lareita no canto da sala
um vexame, debaixo da mesa

O lume, outrora a parte inteira
Assim o fiz, estilhaçando o bem-fazer
queimaram as cadeiras, o chão e o giz
e o escuro foi assim velado

Os olhos doridos, no breu, assistiam
cada um a sua maneira
migraram pra dentro, sem certeza
enxergam-se eles, os olhos-tortura
só nos sobra o resto, o gesto vetado.

Do olho não se vence ou perde.

Mergulhado em cheiro, me banho
Tudo me é tangente, impregnante
Arranco minha pele, perco o pano
amargo o olhos, me ergo.
Sou o conectivo coxo,

no antigo doce
sõ sinto
desejo
branco
manco

e choro.
 

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