Ideia, muda
Sobre Posts Antigos (...)
terça-feira, dezembro 04, 2001

 
Passou mais de um ano, quem diria.
Enviei esse texto numa daquelas sextas feiras do NadaComNada. Gabriel talvez chamasse de poeminha naïf.


From: "Wilson Reis"
Date: Fri Oct 27, 2000 2:33 am
Subject: Once upon a time


No pé da morro, lá entre as árvores miudas
Havia uma casa de telhado seco e tosco
de paredes e portas carrancudas
feias janelas de um quebrado vidro fosco.
Tinha aspecto sonolento
e uma mesa dormia ao relento

Na casa, dolorida
Uma moça estudava...

Cada coisa que ela encontrava
mais uma peça no seu engenho.
Como eram lindos os seus planos !
De cada papel, sorriso ou pano
brotavam os seus desenhos

Em suas mãos o compasso dançava
os pontos se abraçavam,
em retas que em si curvavam.
As curvas então se encontravam
circun-ferindo em cada ponto

E com cada coisa em seu momento,
em seu casebre sonolento
a moça estudava ponto, reta, curva e círculo
sem esboços de tormento

Lá ao longe se via a estrada,
e nela passa, além do vento
só um homem , só ele , mais nada

E em cada novo sol se via
na mesinha ao relento
que a moça a estudar, sorria
para o homem e para o vento

E foi com o bom e velho compasso
que na seda e no veludo
traçava as coisas no espaço
traço, ponto e curva no estudo
falta mais um ponto e nada
E de ponto, curva, dor e traço
do compasso pontiagudo
que do nada se via o tudo

e eis que ela, sem se olhar
sem saber o que fazia
fita o homem a caminhar
e inocente, sorria

Eram belos os seus planos
neles sabia seus passos e tudo
mas nao contara o humano
o dorido, o pontiagudo

Desse dia em diante
com compasso perfurante
fizera o tudo, inconstante
o plano curvo, delirante

E o compasso pontiagudo
que de cada angulo cantara
o mais grave e o mais agudo
nunca mais pra ela dançara

A cada inútil e feio instante
de círculos, dilacerante
um ponto no plano faltava
e o homem sozinho e distante
de costas pra moça, chorava.

Para o homem ficou o vento
e pra moça o lamento
no casebre, sonolento

 

Eu leio:

Powered by Blogger