Uma luz acende do outro lado da rua. Gosto do vento daqui, estou curtindo essa sensação esquisita, deixar que o prédio da frente ocupe toda a minha janela.
Não sei se minha presença incomoda meus vizinhos e nunca achei que eu ia estar me perguntando tal coisa. A luz apaga, acho que foi só alguém indo beber água.

Mudo um pouco de lugar. No prédio ao lado eu vejo o que presumo ser o bloco de área de cozinha. Uma luz insiste ainda acesa e daqui posso ver uma bicicleta encostada na vidraça.

Me lembra um pouco a área da cozinha do Roger; Não pela bicicleta, mas pela vidraça e pela sensação "Rear Window" da coisa. Não me atrevi a contar os andares de nenhum dos dois edifícios, mas eu diria que passam de vinte.

As gentes de fato se empilham. Tento projetar minha consciência na rede das consciências do século dezesseis e repito o que tenho feito bastante nos últimos dias : Olho para o prédio da frente. Que horror.

Estico os dedos de meus pé, não há dúvida que andar descalço na terra ia me fazer um bem danado.

Penso em como será o dia de amanhã, em tudo que devo e não devo fazer. Vontade de sentar no chão, apoiar as bochechas nos joelhos e construir alguma coisinha, brincar com os dedos na areia, amarrar pedaços de madeira e fazer uma pipa ou uma cruz. 
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