Aff, que essa vidinha está me arrancando.
Me arranca até a presença de espírito para escrevê-la com as palavras certas.

Caço por aí coisas que me enternecem e as procuro como se possuísse um pedregulho que, de tão parte, não me permito lançar mão e, ao contrário, me tenta insistir em amaciá-lo.
Não é preciso ser nenhum gênio pra ver que no rio, apesar do esforço paciente em arredondá-las, as pedras continuam duras como devem ser. Podem ter lá suas vantagens; Em dias de água baixa, dão passagem seca pro passante cuidadoso, nos outros suas entrecoisas servem de tocas às criaturas. Resta saber, porém, do que vale colecioná-las. Se desfaço os últimos dez anos em seis pedaços, acaba ficando em cada um algo de que não me orgulho, uma espécie de erro de truncamento sensorial. Mas que droga, a coisa é tão sem sentido que, parece, só o gesto de procurar nas coisas motivos de orgulho já não é motivo de orgulho pra ninguém.
Há, nas coisas, motivos de sobra para não precisá-las.
Deixo a luz entrar.
Me embebedo das uvas, que do vinho já basta o tanto que não tive.  
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