Apesar de ter ido de fato ao dentista nessa segunda feira, continuo com o dente partido. O dentista, como eu previra, detectou também uma cárie instalada, prescreveu uma limpeza de tártaro e sabe-se lá mais o quê. Tudo muito "básico", ele disse. Bom, contanto que no meio disso tudo meu maldito dente fique como era antes, já está valendo. Ah, mas antes de fazer o que quer que seja é preciso mandar um fax para o meu plano dental e aí então, depois de aprovado o "orçamento", é que posso usufruir dos poderes místicos do Dr. Thompson (sim, meu dentista se chama Dr. Thompson). Até lá sou obrigado a esperar mais uma semana com dente quebrado e agora também com uma cárie recém descoberta que me aflige dia e noite; ó , pobre de mim !
Pois é, posto que a consulta em si não durou mais que dez minutos, o resto do tempo eu me entreti conversando com o magnífico Dr. Thompson, um senhor de olhos claros e sorridentes. Digo que os olhos são sorridentes porque, convenhamos, é importante para o sucesso profissional de um dentista, mais do que apresentar um sorriso de dentes impecáveis, que apresente olhos com um sorriso impecável. É neles - os olhos - que o apavorado paciente se alicerça enquanto sofre horrores na ponta da broca. Mas enfim, os olhos do Dr. Thompson são ótimos, além das estórias sobre os contos e poemas que escreve, sobre as desventuras de seus netos, sobre sua peregrinação pelo caminho de Santiago... Saí de lá tão surpreso que já nem sei o que levar, além dos dentes baleados, para agradá-lo na próxima consulta. Nesta primeira o que lhe chamou a atenção foi o livro de contos do Hermann Hesse que eu estava lendo na gaveta (não, não dá pra chamar aquilo de sala) de espera. 
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